O termo Social Television é
normalmente utilizado para nominar a tecnologia que oferece o suporte comunicacional para a efetivação da interação
social que ocorre durante o ato de ver televisão ou o seu conteúdo, em qualquer
contexto. De igual forma, inclui o estudo da televisão e a sua relação com dispositivos,
suportes, redes e comportamento social.
Os sistemas de Social Televison podem, entre as suas
possibilidades operacionais, integrar
comunicação de voz, chat de texto,
presença e sensibilidade ao contexto[1], postagens via microblogs,
participações online, vídeo-conferência
com o conteúdo de TV diretamente na tela, ou usando dispositivos auxiliares. Trata-se,
na realidade, de uma área que desponta aos poucos, mas já se constitui como um
espaço promissor para o desenvolvimento de novos serviços para as emissoras de
TV – que assistem a fragmentação da audiência massiva, e para os produtores independentes
de conteúdo, que estão em busca de novas fontes de receita.
Nesse cenário, como fruto da
insatisfação com o atual modelo de negócios da TV digital aberta - TVD,
que ainda privilegia as emissoras, diversas indústrias de televisores já
distribuem no mercado os modelos das chamadas Broadband TVs[2].
Estas, com seus contratos bem firmados entre fabricantes e portais de
conteúdos, não diferem em praticamente nada das TVs com Ginga[3], que,
pelo menos no início da ampliação da TVD no Brasil, terão suas aplicações
interativas controladas pelas emissoras que difundem conteúdos.
Outra coisa a considerarmos quando abordamos o conceito de Social Televison é que a tão propagada
interatividade na TV aberta esteja a passos lentos demais, e só vá se
concretizar (de forma plena) quando a convergência da web com a TV já seja uma realidade presente em diversas partes do
mundo. Na visão de Alberone (2010), será exatamente neste ponto que a proposta
de TV interativa começa a ficar, de fato, interessante. Segundo o autor, isso é
justificável porque a TV interativa ganha destaque quando integrada com
serviços web populares (como os sites das redes sociais, por exemplo), e
não com a infinidade de aplicativos que podem funcionar sem qualquer integração
com a web ou outros sistemas – já que
isto não vai ser impulsionador de uma tecnologia, pois nada mais são do que
serviços básicos e facilmente "comoditizáveis", do mesmo modo que a alta definição e a
mobilidade, ou os outros recursos disponíveis com a TV digital.
Mesmo assim, em 2010, o Massachusetts Institute of Technology
– MIT, através da sua revista Technology
Review anunciou que a Social
Television é considerada como uma das 10 tecnologias emergentes mais importantes (que tem potencial para "mudar o mundo") compondo uma lista na qual estão elencadas tecnologias que vão desde os melhores
combustíveis biológicos, células solares mais eficientes, e concreto verde até
tecnologia como telas em 3-D em dispositivos móveis, novas aplicações para cloud computing[4]
e a Social Television (AS 10...,
2010)
Todavia, em paralelo ao desenvolvimento de tal tecnologia, um novo ethos do telespectador começa a emergir
na atual conjuntura de utilização de multiplataformas, nos evidenciando que
existe uma considerável fatia da audiência global de vários programas que estão com “um olho na TV e o outro no
monitor ou na telinha do smartphone”
(MATIAS, 2011). Com efeito, o sentido de compartilhamento social da televisão
permanece desde seus tempos mais remotos, contudo, agora, seus consumidores
podem até mesmo não estarem mais comentando com os outros membros da família
sentados no sofá de casa, (afinal, o consumo do meio gradativamente se
individualizou com a inclusão de aparelhos de TV em cada cômodo da casa), mas
estão, nos dias atuais, ampliando seus comentários para uma rede de
relacionamentos expressivamente maior da que existia na sala de suas casas. E
mesmo que não mais virem para o lado “comentando o vestido da tal atriz, a
piada sem graça do apresentador tal ou a bobagem que o dublador traduziu errado
(...) estão falando isso para todo mundo, no Twitter, no Facebook, em blogs, comentários de sites ou de trechos de vídeo que vão
parar no YouTube antes mesmo de o programa terminar” (MATIAS, 2011).
Por fim, de forma bem geral, a
Social Television pensada pelos
fabricantes de aparelhos de TV nada mais é do que uma proposta para
conectar a TV às redes sociais, melhorando a experiência de se assistir à
televisão, em um tempo em que os serviços web
ganham cada vez mais força e a TV vê a sua audiência se fragmentar mais a cada
dia. Contudo, a junção da TV com as redes sociais já é uma realidade concreta,
independente da convergência do próprio aparelho, fato que tem sido largamente
observado quando entramos no Twitter e vemos, por exemplo, os inúmeros posts sobre o que está no ar na TV,
colocar no Trend Topics - TT[5],
em real time, diversas pautas
televisivas.
Referências
ALBERONE, Maurilio. Será que estamos preparados para a TV social mudar
a forma como assistimos à televisão?Quinta-feira, 13/05/2010 às
11h00. Disponível em: http://imasters.com.br/artigo/16850/tv-digital/sera-que-estamos-preparados-para-a-tv-social-mudar-a-forma-como-assistimos-a-televisao.
Acesso em 21 de jul. 2011.
AS 10 Tecnologias Emergentes de 2010 da Revista
Technology Review, do MIT. 14 de Junho de 2010. Disponível em: http://www.creativante.com/index.php?option=com_content&view=article&id=36:as-10-tecnologias-emergentes-de-2010-da-revista-technology-review-do-mit&catid=3:2010&Itemid=16,
Acesso em: 22 jul. 2011.
MATIAS, Alexandre. Televisão Social. Hoje todos veremos o Oscar
juntos. Jornal O Estado de São Paulo, Edição de 27 fev. 2011.
O
QUE é GINGA?? (s/d). Disponível em: http://www.gingadf.com/blogGinga/?p=10.
Acesso em: 20 de jul. 2011
[1] De forma
mais geral, a sensibilidade ao contexto é a percepção de características
relacionadas aos usuários e ao entorno. A definição mais referenciada na
literatura de computação ubíqua para contexto é a formulada por Dey (2000), ao
afirmar que se trata de qualquer informação que pode ser usada para
caracterizar uma situação de uma entidade. Considerando ainda que uma entidade
seja “uma pessoa, um lugar, ou um objeto que é considerado relevante para a
interação entre um usuário e uma aplicação, incluindo o próprio usuário e a
própria aplicação”.
[2] TVs que,
ao serem conectadas à internet, acessam conteúdos disponibilizados por grandes
portais, como vídeos, redes sociais e previsão do tempo.
[3] Middleware (camada de software intermediário) que permite o
desenvolvimento de aplicações interativas para a TV Digital de forma
independente da plataforma de hardware dos
fabricantes de terminais de acesso (set-top
boxes). Ginga reúne um conjunto de tecnologias e inovações brasileiras que
o tornam a especificação de middleware
mais avançada e, ao mesmo tempo, mais adequada à realidade do país, podendo ser
dividido em três subsistemas principais: 1. Ginga-CC (Ginga Common-Core) -
oferece o suporte básico para os ambientes declarativo (Ginga-NCL) e procedural
(Ginga-J); 2. Ginga-J - desenvolvido para prover uma infra-estrutura de
execução de aplicações baseadas em linguagem Java, com facilidades
especificamente voltadas para o ambiente de TV digital; e 3. Ginga-NCL - desenvolvido
para prover uma infra-estrutura de apresentação de aplicações baseadas em
documentos hipermídia escritos em linguagem NCL, com facilidades para a
especificação de aspectos de interatividade, sincronismo espaço-temporal de
objetos de mídia, adaptabilidade e suporte a múltiplos dispositivos (O QUE...
(s/d)).
[4]
Computação na nuvem.
[5] Lista dos termos mais postados pelos usuários do Twitter,
antecedidos pelo sinal da hastag (#).
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